Roxy
Hollywood
– Califórnia
Capítulo 1-Um
Casamento. Uma Banda
_Eu
vou me casar Roxy. Isso não é ótimo?
Foi
com essa frase que o inferno começou.
Tá.
Eu sei que já faz tipo assim, uns seis anos que meus pais se divorciaram, e que
já estava na hora de mamãe arrumar um namorado. Mas casar!!! Onde que ela tá
com a cabeça????????????????????????????
Depois
dizem que os adolescentes é que são irresponsáveis.
Deixe-me
falar um pouco sobre o meu futuro padrasto. Ele passou toda sua vida no Texas,
(acho que ele é puritano, mas não cheguei a perguntar), não fuma, não bebe (até
aí tudo bem, não quero que mamãe namore um possível alcóolatra), é muito bem
sucedido em seu trabalho, tem uma filha da minha idade e não gosta de rock. Por
Deus! Que tipo de ser humano com o mínimo de gosto musical nunca curtiu ouvir
rock??
Minha
mãe até gosta um pouco, ou pelo menos tolera já que me deu uma guitarra de
presente de aniversário quando eu tinha onze anos. Meu irmão sempre disse que
eu tinha talento pra música. O nome dele é Tom, ele tem vinte e três anos e é
dono de um estúdio na Califórnia onde grava com artistas muuuuuuito bons.
Depois
que nossos pais se divorciaram ele foi com o papai pra lá, e eu fiquei no Texas
com minha mãe.
Bom,
voltando ao que estava contando. Ela decidiu se casar.
_Então
Roxy. O que você me diz? _ pelos seus olhos deu pra perceber que ela esperava
que eu no mínimo tivesse uma reação.
_Bom.
_ eu tentei demonstrar que aprovava sua decisão não importa qual seja.
_Só...
Bom? _ ela pareceu desapontada com minha resposta _Você não quer que eu me case
com ele, não é mesmo?
_Não
mãe. Não é isso. _ tentei me explicar _É só que eu não esperava que fossem se
casar tão cedo. Mas por mim tá tudo ok.
_Que
bom! _ ela disse enquanto tentava me matar sufocada em um abraço, que eu até
teria correspondido se não tivesse meus braços espremidos até perder o
movimento dos dedos.
Assim
que ela me soltou tentei mover as mãos para fazer o sangue circular por meus
braços, depois chequei para ver se não tinha nenhuma costela partida ou o ombro
deslocado. Mamãe pode ser baixinha, mas quando está emocionada e decide abraçar
ela pode matar um urso. É sério.
Casamento – Vestido
Eu juro que não foi de propósito.
Quer dizer, como eu ía imaginar que se deixasse o cabo que conecta a minha
guitarra ao amplificador jogado por aí poderia fazer a moça que levava o chá
tropeçar e derramar tudo em cima do vestido de noiva da mamãe? Foi um acidente,
eu não faço esse tipo de coisa acontecer de propósito, mas ninguém quer me
escutar e a Anne (a filha do novo marido de mamãe) fica me olhando de um jeito
estranho, como se eu realmente tivesse feito isso porque quis. Aff!
Vestida de Dama
Sabe
o que é ainda pior? Eu sou dama de honra, sério. Nem eu acredito que embarquei
nessa. Agora estou tentando desenroscar a minha pulseira de corda de guitarra
da barra do vestido de dama sem rasgar ele.
Ótimo!
A droga do vestido está com a barra toda desfiada agora, mamãe vai ter um
acesso se me vir assim. Agora tenho que evitar a todo custo que ela me veja
antes de ir ao altar.
Anne
acabou de passar pela porta, deve estar conversando com as outras damas.
_Roxy,
você está aí? _ Ah Meu Deus, minha mãe está me procurando.
Ela
tentou abrir a porta, mas eu empurrei com meu corpo, estiquei o pé e puxei uma
cadeira, a usei pra travar a porta.
Tenho
que achar algum lugar pra me esconder, e rápido!
_Roxy?
_ a voz de mamãe veio de dentro do quarto, ela conseguiu abrir a porta.
Fiquei
o mais quieta que consegui, olhei em volta, por Deus esse é o menor armário no
qual já me escondi durante minha curta vida (e olha que eu já me enfiei em
muito armário pequeno). Ela me chamou mais umas duas vezes e depois saiu.
Quando escutei o clique da porta sendo fechada, decidi sair, esse armário é
pequeno demais para alguém usando um vestido de dama de honra com saia rodada
(sério! Quem é que desenha esses vestidos??). Tentei abrir a porta uma vez, e
mais outra, e mais outra, já era a sexta tentativa, mas a droga da porta não
abre!
O Guitarrista
Se
eu não conseguir sair daqui a tempo mamãe nunca vai me perdoar por perder o
casamento dela.
Já
estava perdendo as esperanças quando ouvi alguém abrindo a porta do quarto.
_Ei!
Você! Por favor, me ajuda a sair daqui! A porta tá trancada! _ eu gritei com
todas as minhas forças.
Os
passos vieram pra mais perto.
_Tem...
Alguém preso aí? _ a voz incerta de um garoto veio do outro lado da porta do
armário.
_Será
que dá pra me tirar daqui? _ perguntei pra ele.
_Certo.
Se afaste.
_Afastar
pra onde, eu mal caibo no espaço que tem aqui. _ murmurei.
Alguma
coisa bateu contra o fecho da porta, e como eu estava apoiada nela na hora em
que abriu, fui de cara ao chão.
Levantei
o mais rápido que pude, peguei o pequeno buquê de flores que as damas tinham
que levar e saí correndo até o salão onde o juiz de paz iria realizar a
cerimonia. Deu pra perceber como todos me olhavam, meu vestido estava com a
barra desfiada, meu cabelo estava todo desalinhado e algumas das pétalas das
flores estavam faltando (faltando de forma perceptível), sinceramente no
quesito dama de honra eu sou uma negação.
Meu
Deus, o que eu fiz pra merecer isso?
O Guitarrista -2-
A
cerimonia seguiu na total paz, embora minha mãe parecesse que ia desmaiar toda
vez que olhava pra mim, acho que meio que desapontei um pouco ela. Mas ela
nunca vai dizer isso pra mim.
Na
hora da festa chamaram uma banda pra tocar, os caras estavam subindo quando
reconheci o guitarrista, era o cara que me salvou de perder o casamento!
Eles
tocaram algumas músicas lentas e depois passaram pra um pop rock (meu novo
padrasto não parece ter gostado muito, hehe). Os caras tocavam muito, mas dava
pra ver que só estavam juntos por causa da agência de festas que os pagava para
tocar aquelas músicas.
Assim
que eles terminaram a apresentação eu fui lá falar com ele, e agradecer.
Cheguei
até onde ele estava guardando sua guitarra.
_Bem.
_ eu disse enquanto me balançava de leve pra frente e pra trás _Acho que devo
te agradecer já que você meio que me salvou hoje, e tal.
_Aquilo?
_ ele falou _Esquece tá tudo ok.
_Ainda
assim valeu. Eu podia ter perdido o casamento da minha mãe e ela nunca iria me
perdoar.
_Fala
sério, você é a pior dama de honra que eu já vi.
_Roxy.
_O
quê?
_Meu
nome é Roxy, você pode me chamar assim.
_Certo.
Sou Matt.
Depois
disso rolou um looongo papo sobre música, bandas, eventos musicais, amigos em
comum, gostos em comum. Enfim, ficamos amigos.
_Roxy.
_ ouvi minha mãe me chamar.
Virei
para encontra-la com um olhar questionador, o que significa que eu não escapo
sem dar uma boa desculpa.
E
foi mais ou menos assim que tudo começou.
Já
faz cinco meses que estão casados, Anne e eu ficamos amigas, descobri que ela
toca bateria, e agora temos uma banda.
A
formação é essa:
*#*Eu
toco guitarra e fico no vocal;
*#*Matt
também toca guitarra;
*#*Anne
fica na bateria;
*#*Josh
no baixo.
Só
pra constar, Josh é um amigo meu de infância que tinha se mudado pra NY, mas
que voltou pra cá há uns três meses (acho que Anne tem uma pequena queda por
ele – em pequena eu quero dizer um salto livre das Cataratas do Niágara).
A
nossa banda toca um rock leve, as letras até que são boas, mas nunca fizemos um
show, e meu padrasto nem imagina que ela existe ou então nunca mais nos deixava
tocar.
_Eu
vou à cozinha, quer alguma coisa? _ Anne me perguntou.
_Não
quero nada não. Mas volta logo que eu tenho uma coisa pra te mostrar, vai
rápido.
Ela
foi e voltou em uns três minutos. Sim, ela foi rápida.
_Olha
isso. _ eu mostrei pra ela a folha que eu arranquei de uma revista.
_O
que é isso? _ ela perguntou enquanto puxava o pedaço de papel da minha mão.
_É simplesmente o anuncio da Batalha das Bandas.
_Mas
é em NY! E a final é em Hollywood!!!!! _ os olhos dela pareciam que iam saltar.
_E
daí? _ perguntei.
Ela
ficou me olhando daquele jeito que só ela sabe fazer e que faz com que você se
sinta um completo idiota, ou pensar que todos os seus planos vão dar errado.
Levantei,
peguei o controle da TV e coloquei na MTV, já estava passando os dez melhores
clips da semana, imaginei se um dia apareceria um clipe da minha banda ali. Bem
que podia.
_Roxy!!!
_ Anne gritou perto do meu ouvido para que eu prestasse atenção nela.
_Não
precisava fazer isso. _ resmunguei.
_Precisava
sim. _ ela rebateu.
_Que
foi?
_Você
sabe que mesmo que nos inscrevêssemos, papai não deixaria _ eu abri a boca para
contestar, mas ela não me deixou falar _E se ele deixar, não tem como chegar a
NY, onde vamos ficar?
Levantei
correndo do sofá e fui ao meu quarto, procurei no meio da bagunça até achar uma
carta da tia May. Com o envelope na mão eu voltei correndo e pulei direto pro
sofá, fazendo com que as almofadas fossem direto pro chão.
Estiquei
o envelope pra ela.
_O
que é isso? _ perguntou enquanto olhava o envelope.
_Olha
a endereço. _ minha vontade era de rir de tão genial que sou.
_74
com à... Espera! Mas isso é em NY! _ ela começou a entender onde eu queria
chegar.
_Tia
May já nos chamou várias vezes pra visita-la, acho que seria um ótimo lugar pra
ficar, e ela nos daria cobertura total, ninguém ia ficar sabendo onde
estávamos. E, se conseguirmos chegar à final em Hollywood com certeza Tom nos
ajudaria.
Ela
pareceu pensar sobre o assunto por alguns minutos, e depois fez que sim com a
cabeça fazendo com que os seus cachos castanhos balançassem pra cima e pra
baixo.
_Agora
só precisamos contar para os meninos. _ ela disse.
_Certo.
Vamos lá.
Pegamos
nossas coisas e entramos no meu carro, que só pra constar é um lindo fusca
roxo, com um interior totalmente decorado em estilo hippie. Mamãe quer que eu
me livre dele mas nunca irei abrir mão do Joey (esse é o nome com o qual ele
foi batizado).
Chegamos
à casa do Josh, o carro do Matt estava estacionado na frente da garagem e
passando por cima de parte do gramado.
_Pegou
a revista? _ perguntei pra Anne, que se olhava nervosa na janela do Joey (isso
sempre acontece quando chegamos à casa do Josh).
Apertei
a campainha e esperei, e esperei, e nada de alguém aparecer. Apertei de novo e
ainda assim nada.
_Tive
uma ideia. _ falei pra Anne, que já estava fazendo uma de suas caras
preocupadas _Pega alguma ferramenta pra mim no porta-malas do Joey.
Ela
trouxe uma chave de fenda, que eu usei como um pé-de-cabra pra arrombar a
janela da sala. Consegui abrir até a metade antes de a janela emperrar. Joguei
minha bolsa e a revista por ela, apoiei as mãos no parapeito da janela peguei
impulso e atravessei meu corpo até a cintura pela janela, depois dei um jeito
de sentar no parapeito estreito e pular pra dentro.
_Agora
é a sua vez. _ falei pra Anne que estava do lado de fora.
Ela
me jogou a bolsa e passou pelo mesmo processo que eu para chegar desse lado.
Pegamos
as coisas do chão e começamos a andar pela casa. Parecia estar completamente
vazia, até Anne tropeçar em alguma coisa caída atrás do sofá.
_Ah!
_ ela gritou.
_O
que foi? _ fui correndo perguntar.
Ouvi
passos descendo as escadas e caindo os últimos degraus.
Olhei
atrás do sofá e era o Matt quem estava lá acabando de acordar, e de ressaca
pelo que pude ver. Josh conseguiu se levantar apoiando no corrimão, e veio
andando até onde estávamos.
_O
que foi? Como vocês entraram? _ Josh perguntou ainda sonolento.
_Eu
arrombei a janela. _ respondi enquanto me jogava no sofá.
_Você
o quê?! _ Josh estava genuinamente assustado.
_E
o que querem? _ Matt perguntou enquanto sentava no sofá e jogava os pés em cima
da minha perna.
_Como
assim arrombou? _ Josh perguntou enquanto checava a janela.
_Pensei
em inscrever a gente na Batalha das Bandas.
A primeira fase é em NY e a final em Hollywood. Achei que seria legal, podíamos
ficar na casa da minha tia May e se passarmos o Tom pode nos ajudar. Vai ser
tipo assim, demais.
_Vai
mesmo. Cara é a oportunidade de que precisávamos. _ Matt já estava animado com
a ideia.
_E
o seu padrasto? _ Josh perguntou preocupado _Quer dizer, o cara nem sabe que
temos uma banda, ele não vai deixar vocês irem pra NY.
_Nós
vamos. Nem que tenhamos de fugir. Certo, Anne? _ me virei pra ela.
_É
isso aí. _ ela concordou.
Ficamos
discutindo sobre que músicas deveriam ser tocadas em NY. E só pelo nosso
repertorio vamos ter que ensaiar bastante. Os meninos decidiram tomar café da
manhã, então, pedimos pizza.
Estávamos
devorando a pizza quando Anne perguntou:
_Ei
Matt. _ ele fez sinal pra ela continuar a falar _O que você estava fazendo
aqui?
_Isso?
_ ela fez que sim _É que ontem depois do trabalho a gente resolveu beber um
pouco. Acho que o pouco foi muito, e aí o Josh foi vomitar lá em cima e eu caí
aqui em baixo.
Começamos
a rir até o Josh engasgar com a soda. Pegamos nossas coisas e fomos andar na
rua. Fomos ao cinema e depois no parque. Ficamos lá sentados até anoitecer,
quando Anne e eu tivemos que voltar pra casa. Era
a hora de fazer a inscrição e juntar as coisas para ir pra NY. É agora ou
nunca.
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